Ele nasceu


                  Ele nasce todos os dias, nas cidades, no campo, nas ruas, em casa e sem casa.
Sem profecia ou manjedoura. Sem estrela guia ou reis magos para adora-lo. 
                  Sua mãe, não teve o aviso dos anjos, nem foi por milagre que o concebeu, é fruto da violência da fraqueza e do vício.
                  É preto, pobre, e ainda não sabe o que isso significa, mas vai aprender, a duras penas, mas vai.  Em tudo deverá provar que é melhor, para os outros e pra si próprio. Sempre terá olhos em sua volta, não por admiração, mas por desconfiança, por causa de sua cor.
                 Será crucificado todos os dias, sofrerá as dores da paixão, coroado com os espinhos do escárnio e pelos cravos do preconceito.
Bendito será nas fantasias dos brancos, dentro das alcovas, como um objeto exótico.
                Terá sua ressurreição quando perceberem que ele é um ser humano. Subirá aos céus e será Deus quando seus talentos forem reconhecidos antes que sua cor.
                Será o salvador quando outros que nasceram como ele puderem ver a sua vida como exemplo de luta e resistência.
                Ele nasceu para renascer todos os dias, para ensinar que o amor não ver em cores e padrões, nasceu para ser rebelde e levantar a voz por aqueles que o medo e a dor calaram.


Ele nasceu.

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